Icônico, Móveis Lafer encerra atividades após 90 anos no Cambuci

Quem gosta de garimpar antiguidades provavelmente já se deparou com este nome: Móveis Lafer. Após nove décadas de sucessos, a fábrica com peças icônicas no Cambuci encerrou as atividades em outubro de 2022, deixando o ano mais triste.

O negócio familiar fundado em 1927 na rua dos Lavapés, número 6, é fruto do talento do arquiteto e desenhista industrial Percival Lafer que, junto aos irmãos e ainda jovem, assumiu a empresa do pai – polonês Bension “Benjamin” Lafer – atribuindo à mesma um caráter vanguardista.

Com ideias inovadoras, suas criações foram marcantes para o setor moveleiro do Brasil, especialmente durante o período chamado “meio século”, ou mid century, ao qual se atribui o período entre os anos 1950 e 1960.

Antiga Móveis Lafer, no Cambuci
Percival Lafer, o designer que revolucionou o mercado

As características deste estilo estão em alta na decoração atualmente, em um resgate do vintage e – ainda assim – moderno, atribuindo mais valor agregado às peças assinadas, ao lado de nomes como Sérgio Rodrigues, Giuseppe Scapinelli e Jorge Zalszupin. O mobiliário fazia uso de madeiras nobres, com beleza atenuada pelas linhas mais modernistas.

A Poltrona Lafer é um dos objetos de desejo que fazem os olhos dos garimpeiros brilharem. A unidade chega a custar de R$ 3 mil a R$ 6 mil, a depender do estado de conservação, de restauro ou fragmentos originais intactos.

As formas únicas fizeram com que fosse criada uma sigla de garantia do item original: MP Lafer, ou Móveis Patenteados Lafer. Apesar disso, o intuito do designer era criar móveis de qualidade acessíveis às massas, explorando inclusive materiais de baixa qualidade e lojas de bairro como pontos de venda.

O primeiro grande sucesso veio em 1961 com a poltrona MP-1, sem molas, com cintas de borracha. Quatro anos depois vieram os móveis articulados, como é o caso do sofá-cama MP-7 e a Mini Sala, um aparador que se transformava em mesa com seis cadeiras.

A aposta, porém, não teve o resultado esperado: o mercado ainda era conservador demais para este conceito. O que sobrou da produção encalhada foi transformado na poltrona Mirage, um sucesso de vendas.

A Lafer atuou na produção de tapeçarias, fibra de vidro, espuma e estruturas metálicas, que serviram para criar orelhões e quiosques de sorvete Kibon.

Com objetos que podem valer até R$ 20.000, a empresa se consolidou, tendo inclusive produtos “estilo Lafer” em anúncios da internet, termo que se refere à réplicas e releituras de móveis inspirados pela tradicional fabricante.

O carro MP Lafer

Um dos projetos ousados da empresa foi o automóvel MGT 1973, mais tarde batizado como MP Lafer. O carro esportivo era uma réplica do modelo inglês MG-TD 1952, o que fez com que a empresa fosse a primeira no Brasil a fazer uma reprodução em escala industrial.

Em parceria com a Volkswagen, em São Bernardo do Campo, a Lafer ficou responsável pela carroceria do automóvel. A produção teve início em pequena escala, em 1974, ganhando melhorias ao longo do tempo. O modelo chegou a ser exportado para outros países, como Estados Unidos e Japão.

Nos anos seguintes, a Lafer foi lançando outros automóveis de sucesso, como o Lafer LL, o MP-TI e o MP-TX. Foram 4.300 carros produzidos até 1990, quando a fabricante desistiu do nicho devido à abertura de importação impulsiona pelo governo Collor.

Hoje, o carro ficou para história, fazendo a alegria de colecionadores ao redor do Brasil e do mundo. O Clube MP Lafer Brasil está em atividade, reunindo pessoas apaixonadas pelo charmoso conversível.

Foto: Clube MP Lafer Brasil

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Ipiranga Feelings

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