Tradicional Piso caquinho ainda resiste no Ipiranga
Que atire a primeira pedra quem nunca viu um piso caquinho forrando as casas da “província” do Ipiranga. Considerado um patrimônio da cidade de São Paulo e outras do Brasil, o piso vermelhinho fez sucesso assim: quebrado. Curioso, não?
Foi entre os anos 1940-1950 que o artefato deu as caras, em pleno auge econômico de SP, quando indústrias como a Cerâmica São Caetano e a Cia. Cerâmica Vila Prudente, ambas pertinho do bairro, produziam a peça de lajota vermelha em tamanho 20×20 cm.
Foto: IpirangaFeelings Foto: IpirangaFeelings Foto: IpirangaFeelings Foto: IpirangaFeelings
Ganhando popularidade, a cerâmica vermelha era mais em conta do que as cores preta e amarela, também vista em detalhes nos quintais e até em fachadas – nesse caso, com influência espanhola. Isso porque na Europa o arquiteto catalão Antoni Gaudí propagou no país a técnica chamada “trencadís“, que basicamente originou o mosaico, visto especialmente no Parque Güell, em Barcelona. O artista, dizem, pedia cacos de cerâmica descartados aos operários durante a construção, para serem utilizados de outra maneira.
Mas por que a cerâmica fez fama quebrada no Brasil? Bem, a cadeia produtiva não era tão automatizada a ponto de não resultar em danos, então as peças quebradas e trincadas eram descartadas pela indústria.
Inicialmente, operários das fábricas pediam permissão para revestirem suas casas com o produto imperfeito. Assim surgiu um processo chamado de “catação”, o recolhimento dos cacos por parte da equipe. Então as casas mais simples, do subúrbio, antes revestidas apenas de cimento, passaram a ficar mais estilosas.
“Todo ato de criação é, antes de tudo, um ato de destruição”.
Pablo Picasso


A ideia caiu nas graças da classe média paulistana e, resultado: virou mosaico, sendo visto não exatamente como um revestimento para jardins, varandas e pátios ao ar livre, mas como ornamentação. Não deu outra, vizinhos. A moda pegou! As indústrias passaram a quebrar parte da produção defeituosa e já encaminhar para venda.
Seu papel estético parece se perpetuar até hoje, pois muitas gerações que se deparam com o famoso piso caquinho o acham gracioso ou no mínimo simpático. Algumas casas, como a minha, possuem um piso novo colocado acima dos charmosos caquinhos. É quando trinca o revestimento atual que descobrimos, às vezes, tesouros escondidos como este.
Em tempo: não descobri se a Cerâmica Saccoman, um marco do Sacomã, produzia o piso também, mas como eles produziam uma variedade de materiais, acredito que sim. Você sabe? Me conta!


*Todas as fotos do post – com exceção da imagem histórica do anúncio publicitário – são de autoria do IpirangaFeelings – reprodução permitida apenas mediante contato
Nasci no Ipiranga e não sabia desta origem. Gostei muito
Parabéns