Acervo de memórias: o Ipiranga nas lentes de Takashi Hiratsuka
Com o poder de congelar o tempo e resgatar memórias, a fotografia é uma das maiores responsáveis pela conexão com o passado, vivido ou não, de cada pessoa. Nas belas imagens registradas pelo japonês Takashi Hiratsuka, observamos o bairro Ipiranga nas décadas de 50 e 60 como nunca reveladas.
O engenheiro mecânico tinha a fotografia como hobby, carregando sua câmera Nikon S2 a tiracolo enquanto viajava pelo Brasil. Oficialmente, ele trabalhava na extinta fábrica de micro tratores Tobatta da Kubota-Tekko do Brasil (anteriormente: Marukyu), localizada em Diadema, parte do ABC Paulista. A empresa não escapou das lentes do antigo funcionário, que fez um vídeo em filme 8mm, eternizando sua passagem por lá.
O riquíssimo e saudoso acervo que deixou de herança traz fotos de diversas partes de São Paulo, em especial o Centro da cidade, além de Curitiba, Pará e Foz do Iguaçu. Registrou momentos cotidianos, mas também fotos de valor documental, como a do Edifício Corumba, em Piracicaba, que desabou em 1964.
Apesar de o acesso às imagens ser fácil, o acesso às informações acerca do autor são uma tarefa mais árdua. Não conseguimos saber muito mais sobre o engenheiro com alma de historiador, que — sem confirmação oficial — teria falecido em 2012.
Quem compartilha as imagens na internet atualmente é o filho dele, Kiyoshi Hiratsuka, que mantém negativos e fotos reveladas bem guardadas, além de digitalizadas. Segundo o IpirangaFeelings apurou com o próprio, o pai trabalhou no Brasil de 1959 até 1967, retornando ao Japão.
No bairro Ipiranga, Takashi circulou pelo Parque da Independência e Museu do Ipiranga com sua câmera, captando imagens informais do dia a dia. Nota-se que ambos os espaços, na época sem grades, funcionavam como uma extensão da rua. Ali vendia-se de tudo: bolas, balões, refrigerante, sorvete americano, pirulito e tudo mais que a criançada adora e os pais hesitam.
Indo além da matéria, nas imagens podemos ver a moda, o estilo de vida, as profissões de rua e as demais atividades que permeavam a vida do paulistano na época, formando uma série documental valiosa e importante de dois locais históricos da região e de São Paulo.
Fato curioso se apresenta na imagem de 25 de outubro de 1959: um carrossel em funcionamento no parque, o que é, talvez, um registro único do equipamento. Em outro momento, fotos de 1961 mostram que o gramado do Museu do Ipiranga costumava ser disputado entre as pessoas em busca de descanso no final de semana. Hoje, essa área não é mais ocupada da mesma maneira, com exceção da área verde do parque.
Como é bom ver o coração do Ipiranga tão lindamente eternizado, carregado de um olhar atento e sensível aos pequenos grandes momentos, às pessoas que formavam nosso pequeno mundo. A vida como ela era, vibrando quase da mesma maneira como é hoje, mas com cara de cenário de filme de época. Obrigada pelo legado, Takashi.
Esse conteúdo foi elaborado a base de muita pesquisa e checagem do IpirangaFeelings. Se repassar ou repostar, cite os créditos. Valorize nosso trabalho! Obrigada!
Legal, os japoneses até hoje são loucos por fotos. Percebe se que as mulheres eram mais recatadas e os homens sempre de roupa social.
Incrível esse resgate histórico do cotidiano.