Museu do Fusca exibe uma coleção rara de veículos no Ipiranga

Quem anda pelas ruas do Ipiranga acaba se deparando com carros antigos com certa frequência. A partir de agora, os moradores e agregados poderão visitar o Museu do Fusca, que reúne raros exemplares do veículo nostálgico.

Depois de ser exibida em algumas ocasiões especiais, a última delas no Festival Tapume, em janeiro deste ano, a coleção particular foi transformada em museu. O espaço expositivo é semelhante a uma garagem, reunindo 28 fuscas fabricados na Alemanha, EUA, Inglaterra, México e Brasil.

Foto: exposição de Fuscas em janeiro de 2020 – Ipiranga Feelings

Segundo o Museu do Fusca, essa é uma das coleções de originais mais raras do planeta. Entre os modelos está o Beetle Inglês, que assim como no Reino Unido, possui volante do lado direito.

O Fusca apelidado de “pé de boi” também está no acervo. Fruto da ditadura militar, foi o primeiro “modelo popular” fabricado pela Volkswagen no Brasil entre 1965-1966, tendo como principal característica ser “nu”. Por ser mais econômico, era desequipado e com acabamento mais simples, não havendo detalhes cromados, setas, abertura para rádio, revestimento e forrações em geral.

Há também dois exemplares com “split window”, que seria o vidro traseiro bipartido, o primeiro grande sucesso importado da marca no país. Esse tipo de modelo pode chegar a custar mais de R$ 200.000,00 hoje. O conversível alemão Black Beetle, de 1963, é outra atração chamativa do Museu do Fusca.

Outra versão curiosa do simpático Besouro é o exemplar equipado com um pequeno e charmoso vaso de flores de porcelana acoplado ao volante. O acessório passou a ser visto em carros a partir de 1895, mas se popularizou na década de 50, chegando a ser utilizado também em Kombis,

Foto: divulgação/Museu do Fusca

A entrada no museu é gratuita, mas precisa ser agendada. As visitas são restritas, seguindo as normas de distanciamento da Organização Mundial da Saúda (OMS). Reservas de horário pelo site oficial.

Foto: divulgação/Museu do Fusca
Foto: divulgação/Museu do Fusca

Fábrica da Volks no Ipiranga

O Ipiranga tem um legado fabril em sua história. Foi exatamente aqui que, em 23 de março de 1953, surgiu a primeira fábrica da Volkswagen do Brasil, mais precisamente na Rua do Manifesto, 1.183 – onde atualmente fica o supermercado atacadista Roldão. Na época, havia apenas 12 empregados na equipe.

A empresa alemã iniciou em solo brasileiro já com a produção de Fusca, com peças importadas do país de origem.

Foto: arquivo/Volkswagen

Enquanto a Volks permaneceu no Ipiranga, foram montados no galpão ipiranguista mais de 2 mil Volkswagens Sedan, chamado de Fusca somente a partir de 1985, e 500 unidades da “Kombinationsfahrzeug“, que no jeitinho brasileiro foi abreviada para Kombi.

Com a demanda crescente, a montadora acabou se mudando para São Bernardo do Campo em 1957, passando a produzir peças nacionais. Foi um grande marco para a cidade, que por décadas acolheu montadoras.

Na época, o Fusca se destacava pelo design, o motor traseiro refrigerado, a resistência mecânica, a capacidade para até cinco pessoas a bordo e o baixo consumo de combustível. Fez sucesso em mais de 60 países e por aqui não foi diferente: virou paixão nacional e item de colecionador.

por 24 anos, o Fusca foi o modelo volkswagen mais vendido do Brasil.

Foto: arquivo/Volkswagen
Foto: acervo/Volkswagen

Entre os anos 1950 e 1980, muita gente aprendeu a dirigir com o Fusca, sendo adotado até mesmo pelas autoescolas. É difícil conhecer alguém das gerações passadas que não tenha ao menos dado uma voltinha no veículo. A memória afetiva do “Fuca“, um dos tantos nomes carinhosos que lhe foi concebido, ainda pulsa entre várias famílias brasileiras.

O modelo deixou de ser produzido no país em 1986, mas a pedidos de Itamar Franco, a fabricação foi retomada para um “chorinho”, que durou de 1993 a 1996.

Em julho do ano passado, a montadora anunciou que o Fusca não seria mais feito no México, marcando assim o fim de sua produção mundial. Um vídeo de despedida com direito a música “Let it Be”, dos Beatles, coloca um ponto final na história da marca.

No dia 22 de junho é celebrado o Dia Mundial do Fusca, data que os entusiastas adicionaram no calendário em 1934, porém, oficializada apenas em 1995. Diversos eventos que resgatam a história do Fusquinha e reúnem apaixonados pelo besouro sob rodas acontecem ao redor do globo. Já o Dia Nacional do Fusca é em 20 de janeiro.

Quem é o colecionador

A coleção de Fuscas pertence a uma figura controversa e sempre polêmica: o advogado e vereador Camilo Cristófaro. Nascido no Ipiranga, frequentou o Colégio São Francisco Xavier, um dos mais conhecidos do bairro.

Os veículos foram adquiridos, restaurados e equipados com acessórios originais da época. Hoje, estão avaliados em R$ 5 milhões. Além dos carros, o alucinado por Fuscas também possui em seu acervo pessoal 5.200 miniaturas. A coleção, de fato, é impecável, destacando-se em eventos e reportagens Brasil afora.

Indo além do hobby automobilístico, Camilo começou a se envolver em política aos 20 anos de idade, sendo oficial de gabinete de Jânio Quadros durante o período em que era prefeito de São Paulo. De lá pra cá, não largou mais cargos públicos.

Foi eleito vereador na cidade pelo PSB em 2018, sob a bandeira de ir contra a “indústria da multa”. Segundo consta numa matéria da Folha de São Paulo, Camilinho, como é conhecido, prometeu doar o salário para instituições de caridade e disse recusar o carro oficial pois já tinha o seu próprio veículo.

A carreira política é conturbada e rodeada de conflitos. Mais recentemente, depois de um período de amizade, entrou em brigas públicas com o atual governador João Doria Jr, chegando a chamá-lo de Hitler, A cerca de três anos atrás, posava sorridente ao lado do empresário, endossando sua campanha.

Depois de anos trabalhando com Marta Suplicy, virou inimigo do Partido dos Trabalhadores (PT) e direcionou ataques à Fernando Haddad. Zero polido, não se inibiu de expor seu preconceito ao chamar Fernando Holiday de “macaco de auditório” ou desrespeitar o gênero do ator Thammy Miranda no plenário.

As situações constrangedoras, para dizer o mínimo, e sempre midiáticas, não param de acontecer. No dia 15 de julho de 2020, um funcionário de 62 anos da subprefeitura do Ipiranga o acusou de agressão, conforme conta o portal G1, narrando ainda outros episódios infelizes envolvendo Camilo.

Não é a primeira vez que uma acusação do tipo é feita contra o vereador, que sempre nega ou alega legítima defesa. Em 2018, houve briga com o vereador George Hato e com o skatista Alexandre “Cuca”, conforme narra uma matéria do UOL.

O próprio mandato de Camilo já foi cassado pela Justiça Eleitoral em virtude de captação ilícita de recursos para campanha em 2016, no qual teria utilizado uma pensionista do INSS como “laranja”. Em março do ano passado recuperou o cargo.

O vereador é bem ativo na Câmara, contando com 62 projetos de lei em tramitação; 14 aprovados e 11 vetados. Também é usuário assíduo das redes sociais, sempre atacando inimigos públicos, fazendo piadas de mau gosto e respondendo às denúncias de espalhar notícias falsas.

Foto: divulgação/Camilo Cristófaro

Descubra aqui os custos de mandato de um vereador

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Redação

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