Artista do Ipiranga lança livro infantil com curiosidades do bairro

O hábito da leitura é fundamental para o desenvolvimento integral das crianças. Com a ajuda de dois gatinhos aventureiros, uma artista do Ipiranga pincela algumas curiosidades do bairro em um livro infantil independente. Com lançamento oficial marcado para o dia 11 de agosto no Sebo Pura Poesia, a pesquisadora Fernanda Grigolin bateu um papo com o IpirangaFeelings sobre a obra.

Em 40 páginas lindamente ilustradas por Julieta Curutchet (Juleeika) e projeto gráfico de Laura Daviña, “As Aventuras de Práxedis e Roque pelo Ipiranga” tem boas doses de pessoalidade na história, feito um caderno de memórias, que se entrelaçam na narrativa. As ilustrações revelam conversas entre os dois felinos, que passeiam entre imagens, símbolos e espaços do Ipiranga com ligação profunda com a autora.

A ideia do livro surgiu a partir de uma tatuagem, que seria a primeira de Fernanda. Ela conheceu a argentina Juleeika através de um grupo em comum e, durante o processo criativo do desenho – executada por Mirian Tattoo -, foi se desenrolando não apenas uma amizade, mas uma história literária. “Ficamos um ano nessa construção e ela nunca esteve aqui, então acabou conhecendo o Ipiranga pelos meus olhos. Eu fazia tours pelo bairro com videochamada, mostrando o Museu de Zoologia, o parque, as avenidas. Dividimos imagens de arquivo, dos meus gatos, das minhas histórias…foi uma decisão muito feliz conceber a junção imagética entre foto e ilustração”, explicou.

Foto: IpirangaFeelings

Para além da primeira tattoo, essa também foi a primeira vez que Fernanda desenvolveu algo para crianças, incentivada por uma escritora do nicho. Já no final do processo criativo, o livro teve a participação de Danielle e Malu, mãe e filha, que foram convidadas a ler a história de forma autônoma para opinar.

Fernanda explica que alguns momentos e até palavras da narrativa foram discutidos em muitas reuniões com a garota de 11 anos, que está dentro da faixa etária proposta: “ela apontou, por exemplo, que eu usava a palavra dizimado na questão indígena, e me incentivou a falar sobre a morte de maneira direta, empregar a palavra certa para maior compreensão.”

Malu inclusive sugeriu que mais crianças aparecessem nas imagens, aprovou o boneco do livro quando chegou da gráfica, além de ter escrito a sinopse, com orientação técnica. “No futuro ela vai lembrar desse processo, do livro no embriãozinho”, orgulha-se Fernanda. “Depois mandei para outras mãe e filha, a Aline e a Helena, que não conheço, para serem as primeiras leitoras. A partir do retorno delas, outras coisas foram modificadas”.

Trazer questões politizadas para o universo infantojuvenil pode parecer um movimento arriscado em termos de expansão de público, mas Fernanda está convicta de seus valores impressos no livro. “Eu visualizo nas crianças leitoras pessoas mais libertárias, que creem num futuro melhor, que estão em desacordo com vários acontecimentos atuais“.

Certa de que a história visa ir além do Ipiranga como o bairro do grito da Independência, a autora aponta que é uma outra visão e entendimento deste lugar centrado em um museu monumental. “Temos que entender que algumas coisas foram construídas para outras serem apagadas, como esse passado operário do bairro. Não temos mais quase vestígio das fábricas”, analisa. “Acho que podemos olhar para esse Ipiranga do qual meu avô e outras pessoas fizeram parte. É com essas pessoas que o livro queria estar, mas ele também pode surpreender. Depois que o livro acontece, ele é do mundo, vai além do que imaginei.”

O livro será lançado oficialmente no dia 11 de agosto, a partir das 16h, no Sebo Pura Poesia. Fica na Rua Costa Aguiar, 1112 – Ipiranga. Para adquirir on-line, clique aqui.

a artista do Ipiranga e seus gatinhos em ilustração do livro – Foto: IpirangaFeelings

Criada entre letras e papéis

Nascida em Curitiba, Fernanda possui uma relação longa e familiar com o bairro. No colo da mãe, ela chegou aqui em 1981 com apenas um ano de vida, pouco após perder o pai. “Minha relação com o bairro sempre foi de bastante carinho e vivida mais nos arredores do Ipiranga de baixo. Quando eu era pequena, lembro daquele monte de homem saindo das fábricas, e essa imagem do Ipiranga fabril ficou marcada em mim. Todas as minhas tias, antes de se tornarem professoras, trabalharam em fábricas no bairro, como a Probel”.

Meu avô materno era um homem rural, analfabeto e operário. Ele trabalhava carregando papéis na Gráfica Romiti, que ficava na Cipriano Barata”, disse ela, sem saber ainda que o impresso também teria um peso em seu destino.

Chegando na adolescência, ela começou a colecionar itens relacionados ao bairro e foi montando um acervo pessoal que lhe deu base para muitos projetos ao longo da vida. “Uma das minhas fontes foi o Seu Augusto, um tipógrafo amigo do meu avô que sabia muito da história local, de greve e chão de fábrica. Acabei incorporando as mulheres operárias e grevistas no meu trabalho de pesquisa”, explica.

Atuando como artista e pesquisadora, criou algumas iniciativas voltadas ao impresso. Em 2014 nasceu a Tenda de Livros, uma barraca de rua que ficava na feira da Patriotas. Depois circulou por outros bairros como biblioteca itinerante e espaço de circulação do Jornal de Borda, publicação também idealizada por ela, além de apoiar livros mais artesanais e de baixa tiragem. “A proposta da editora era de trabalhar com projetos que eu acreditasse muito e pudesse pensar todas as etapas, a partir de 2016. Na pandemia houve um esgotamento do projeto.”

Nos últimos dois anos também existiu o Ateliê Folleta, um dos cenários do livro infantojuvenil, que serviu como espaço físico de acesso a parceiros, um lugar onde Fernanda mantinha sua biblioteca, sua coleção de publicações da América Latina, e sua produção como artista e editora.

Agora ambos projetos encerram os ciclos. “É uma decisão bem pensada finalizar a Tenda e o Ateliê como começaram, no Ipiranga, e fazendo uma homenagem à própria história delas e às pessoas que marcaram essa trajetória”, concluiu a escritora, que continuará a desenvolver novas atividades no bairro, transitando entre literatura, artes visuais e biblioteconomia.

O Ipiranga me dá muitas ideias. Meu ateliê é a biblioteca, um lugar de memória. Colhemos informações do passado e tecemos processos imaginativos em relação ao futuro“.

Ilustração da Fernanda, feita por Juleeika – Foto: IpirangaFeelings

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