Galeria de arte no Ipiranga quer incentivar novos artistas e cultura no bairro

A criatividade pode transformar vidas e, quem sabe, um bairro todo. Uma galeria de arte no Ipiranga quer incentivar e aproximar o público de novos artistas, ao mesmo tempo em que procura levar cultura a lugares onde o acesso é insuficiente.

A Lateral Galeria partiu da artista plástica Camila Alcântara e o consultor de negócios Guilherme Marinho. A dupla empreendedora estava com muitos planos até a chegada da pandemia do coronavírus, mas resolveu insistir no espaço cultural, reaproveitando um cômodo de casa para colocar o sonho de pé, no melhor estilo “vai lá e faz”.

A missão da lateral galeria é dar visibilidade para artistas, em sua maioria, emergentes.

Enxergando uma carência não só de espaços culturais no Ipiranga, mas especialmente a falta de galerias de arte, o casal decidiu não adiar a abertura. Mesmo sem uma festa de inauguração à altura, o espaço físico está funcionando desde o dia 29 de agosto, com visitação gratuita de terça à sábado, tomando as devidas precauções sanitárias e de segurança neste período de Covid-19.

O funcionamento se baseia em quatro pilares. O acervo técnico disponibiliza obras exclusivas a colecionadores, consumidores e entusiastas. Para compor o quadro de participantes, a curadoria de artistas e obras contempla diferentes linguagens artísticas, focando em artistas contemporâneos.

Pensando em nichos de mercado se formou o círculo de colecionadores, dedicado à membros que a partir de três planos diferentes possuem benefícios e vantagens, incluindo parcelamento facilitado e acesso prévio às obras do acervo. Os planos pagos variam de R$ 120 a R$ 200.

Como meio de fomentar o cenário artístico e gerar renda aos artistas independentes durante a pandemia, a Lateral Galeria criou também o Leilão das Artes, feito virtualmente e esporadicamente por meio do Instagram, no qual o público dá lances em determinadas obras e assim que arrematadas, pode levar pra casa.

Fundo social

É através do leilão que é financiado o fundo social da galeria. Metade do valor da obra leiloada é destinado ao projeto socioeducativo pensado por Camila e Guilherme para levar atividades de desenvolvimento artístico à jovens desfavorecidos da região.

Nesse momento de pandemia, o valor arrecadado será destinado à famílias em vulnerabilidade, mas o intuito futuramente é aproximar crianças e adolescentes das técnicas de arte para que possam se expressar e, quem sabe, se descobrir no meio cultural.

talentos transversais

Nascida em São Paulo, Camila trabalhou com moda e inicialmente fazia colagens com uma pegada pop art, bem coloridas, geométricas e que não dialogavam tanto com suas origens. A partir do momento em que foi se aprofundando nas questões de gênero e raça, a artista de 29 anos acabou encontrando muito mais do que formas de expressão em seu próprio processo artístico.

Assim como numa colagem, técnica que envolve recortes impressos e cola, ela foi colocando no papel pedaços de si mesma. O entendimento acerca da negritude passou a falar cada vez mais alto na delicada jornada do autoconhecimento e não por acaso se concretizou em arte.

“No meu processo de reconhecimento como mulher negra foi importante perceber o mesmo processo acontecendo com outras pessoas. E foi aí que me encontrei, que percebi os rumos do meu processo artístico”

Camila na primeira exposição individual da vida – Foto: Ipiranga Feelings

 

Junto às colagens entram novos elementos: tintas, tecidos, linhas e texturas. “Eu só coloco para venda depois que paro e penso ‘agora sim está pronto’. Tem colagens que demoram semanas, outras algumas horas. Mas realmente preciso ter essa certeza de que não há mais o que adicionar naquele trabalho”, disse.

As obras de Camila não passam despercebidas. Ancestralidade, infância, feminilidade, pertencimento, reinterpretação e ressignificação de símbolos são presenças marcantes nas colagens. São imagens fortes e ao mesmo tempo sensíveis, invariavelmente tocantes.

Obra “Correntes, só que outras”

Camila já participou de exposições, coletivas e individuais, no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Dublin, na Irlanda. A primeira mostra individual da artista aconteceu na Feira Feelings, evento produzido pelo Ipiranga Feelings e pela Moika no bairro Ipiranga em 2019.

farmer teut

Atualmente a galeria também representa o artista Farmer Teut, Formado em design gráfico e atuando como Diretor de Arte em agências de comunicação, ele se revela um verdadeiro artista no campo da ilustração e das artes plásticas.

A produção tem forte influência da arte urbana e do neo expressionismo, movimento artístico alemão que emergiu em meados de 1980. Existe uma semelhança com os traços de Jean-Michel Basquiat, que foi um dos ícones do estilo europeu.

As técnicas são mistas, passando pelo uso de tinta acrílica, guache, pigmentador, giz de cera e canetinha. O resultado é uma “bagunça” organizada, que salta aos olhos numa explosão de cores, rabiscos e frases.

Os traços despretensiosos e até divertidos são, porém, carregados de críticas sociais. A pesquisa tem como base a investigação do comportamento humano dentro da contemporaneidade, trazendo dilemas como a necessidade de aprovação na internet e a violência.

 vai lá!

Horários de Funcionamento: Terça à sexta-feira: 10h às 18h; sábado: 13h às 17h.

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Redação

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