Vereador do Ipiranga, Camilo Cristófaro poderá ser cassado de novo em votação no plenário
Controverso, polêmico e formado em Direito, Camilo Cristófaro é um vereador do Ipiranga, com forte presença no bairro da Zona Sul de São Paulo. Envolvido em política desde jovem, o parlamentar parece se esquecer quase sempre das regras básicas de cidadania: é alvo de mais um processo de cassação, que será votada na corregedoria amanhã, 24 de agosto, e poderá ir a plenário dia 29. Entenda o caso.
Nascido no Ipiranga, frequentou o Colégio São Francisco Xavier, um dos mais conhecidos e tradicionais da região. Conhecido como “Camilinho”, o político faz parte de um berço hierárquico: ele é filho de Camilo Cristófaro Martins, capitão e ex-coronel da Polícia Militar do Estado de São Paulo, que de 1954 a 1958 ocupou o cargo de ajudante de ordens no gabinete de Jânio Quadros, eleito Governador do Estado de São Paulo.
Em 1978, fundou e presidiu o Movimento Juventude Janista, e aos 25 anos foi nomeado o único oficial de gabinete de Jânio, seu “padrinho” na vida pública. Ao longo dos anos, Camilo foi barganhando cargos públicos, pulando de setor em setor. Foi procurador do Estado, Presidente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), Chefe de Gabinete da Presidência da Câmara Municipal de São Paulo, sua função mais longínqua, que durou de 2007 a 2014.
Ele soube usar a internet a seu favor, movimentando suas redes sociais em 2015, com a página Cotidiano do Trânsito no Facebook, tendo como principal alvo as questões do trânsito. Crítico ativo dos radares e da chamada “indústria da multa”, ganhou a simpatia de demais motoristas com as mesmas queixas.
Na época do auge, foi eleito vereador em 2016 pelo PSB e reeleito nas eleições 2020. Segundo consta numa matéria da Folha de São Paulo, Camilinho, como é conhecido, prometeu doar o salário para instituições de caridade e disse recusar o carro oficial pois já tinha o seu próprio veículo.
Ao longo dos anos, foi ativo na Câmara, mas sempre às custas de polêmicas, brigas e traições. Ainda possui capital político dentro da Subprefeitura Ipiranga e da Prefeitura Municipal, estando sempre em eventos oficiais para marcar presença, além de ferir o princípio da impessoalidade e colocar propaganda política irregular ao redor do bairro inteiro.
Fã de colecionismo, coleciona processos
Camilinho mantém uma coleção de Fuscas numa garagem própria, próxima ao Museu do Ipiranga. Os veículos foram adquiridos, restaurados e equipados com acessórios originais da época. Hoje, estão avaliados em R$ 5 milhões. Além dos carros, ele também possui em seu acervo pessoal 5.200 miniaturas.
Para além dos carros antigos, o vereador parece não se cansar de manter uma carreira política conturbada, inconsistente e rodeada de conflitos. Nota-se em seu comportamento uma apropriação de quem sempre está acima dele na hierarquia de poderes. Camilo procura manter uma relação bem próxima ao lado de prefeitos e subprefeitos, para negociar pautas de seu interesse e para se manter em algum cargo público.
Depois de um período de amizade, entrou em brigas públicas com o então governador João Doria Jr, chegando a chamá-lo de Hitler. A cerca de seis anos atrás, posava sorridente ao lado do empresário, endossando sua campanha.
Depois de anos trabalhando com Marta Suplicy, virou inimigo do Partido dos Trabalhadores (PT) e direcionou ataques à Fernando Haddad. Zero polido, não se inibiu de expor seu preconceito ao chamar Fernando Holiday de “macaco de auditório” ou desrespeitar o gênero do ator Thammy Miranda no plenário.
As situações constrangedoras, para dizer o mínimo, e sempre midiáticas, não param de acontecer. No dia 15 de julho de 2020, um funcionário de 62 anos da subprefeitura do Ipiranga o acusou de agressão, conforme conta o portal G1, narrando ainda outros episódios infelizes envolvendo Camilo.
Não é a primeira vez que uma acusação do tipo é feita contra o vereador, que sempre nega ou alega legítima defesa. Em 2018, houve briga com o vereador George Hato e com o skatista Alexandre “Cuca”, conforme narra uma matéria do UOL. No mesmo ano, atacou o mesmo vereador, de origem asiática, em um ato considerado racista e preconceituoso.
O próprio mandato de Camilo já foi cassado pela Justiça Eleitoral em virtude de captação ilícita de recursos para campanha em 2016, no qual teria utilizado uma pensionista do INSS como “laranja”. Em março do ano passado recuperou o cargo.
Mais um pedido de cassação
Em 2022, o parlamentar foi desfiliado do PSB SP após uma fala racista que vazou no meio de uma sessão de CPI dos Aplicativos. No áudio, usou a expressão “coisa de preto” para se referir a uma imagem exibida durante o trabalho. O partido atual é o Avante.
Ao ser indagado, deu duas versões para a mesma história: primeiro disse que se referia a um carro, e depois, a um amigo. O vexame ficou ainda pior ao postar um vídeo em seu perfil do Instagram, ao lado de três pessoas negras, para afirmar que todos são amigos. O visual também foi repaginado: Camilo aderiu a barba, para mudar a própria imagem.
Cada hora com um alvo, o vereador agora se dedica a atacar o PSOL pela denúncia de racismo. Vereadoras da legenda, como Luana Alves e Elaine Minero, levaram o caso para a Corregedoria. O caso ganhou mais força em agosto de 2023, com o parecer do vereador Marlon Luz (MDB), que recomendou a cassação do mandato.
O relatório será enviado para aprovação na Corregedoria na quinta-feira (24) e pode ir à votação dos vereadores na sequência. A perda do mandato depende de dois terços de votos favoráveis, ou seja, 37 votos entre os 55 vereadores. A página Racismo Não É Brincadeira criou um formulário para que todos os cidadãos possam pressionar parlamentares a votarem a favor da cassação.
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