Refugiada da Síria refaz a vida vendendo comida árabe no Ipiranga
Que o mundo é repleto de mulheres incríveis, não há dúvidas. E aqui no bairro também temos histórias bem inspiradoras. É o caso de Razan Suliman, refugiada da Síria que refez sua vida vendendo comida árabe no Ipiranga.
Antes do país virar uma zona de conflito, a jovem de atualmente 30 anos se casou pela primeira vez aos 18 e teve dois filhos, Nwaf e Thanaa. A vida era tranquila e segura na época.
Ao pedir divórcio, foi agredida pelo ex-marido, membro do exército do ditador Bashar Al-Assad, e teve sua casa invadida. Foi ele quem sequestrou os dois filhos do casal, impedindo a jovem sunita de ter contato ou até mesmo notícias. Hoje eles vivem na Alemanha e tem contato apenas com a avó,
Até meados de 2012, o conflito no país foi se acirrando. Na época, após a separação, Razan vivia em Aleppo, na Síria, onde dava aulas de inglês para crianças na casa dos pais e fazia faculdade de computação. Depois de se mudar mais de 10 vezes em meio à zona de guerra, acabou indo morar numa escola com outras famílias.
Porém, o local onde estava refugiada também foi bombardeado, resultando na morte de uma tia, um tio e um primo. Ao todo, desde o início da guerra sangrenta, a família já perdeu 41 membros.
Foi então que, a pedido de sua mãe, ela tomou a decisão de partir junto ao atual marido, Mohammad, que ficou surdo e com problemas de coluna em virtude do impacto das bombas durante os conflitos sírios. Os dois andaram de Aleppo a Damasco, até conseguir sair do país.
A primeira parada foi na Líbia, ao Norte da África, onde viveram por três meses. Com dificuldades de adaptação e de encontrar oportunidade de emprego, decidiram que seria a hora de partir novamente.
Resolveram então ir para a França, já com documentação de visto em mãos. Ao chegar no aeroporto da Líbia, foram impedidos de migrar para o país e perderam todo o investimento que fizeram.
Em solo brasileiro
Sem ter tempo para cultivar a decepção, era hora de colocar em prática outro plano. Chegando ao Brasil, em 2014, mais uma surpresa: Razan estava grávida. O pequeno Adam nasceu em solo brasileiro e agora já tem até um irmão. Aqui a família encontrou, entre trancos, barrancos e preconceitos, uma rede de apoio.
A princípio, moravam num apartamento cedido por um ano pela comunidade árabe no Brasil e atualmente vivem no Ipiranga. O sustento veio a partir do momento em que Razan fez esfihas para uma vizinha, que depois anunciou os produtos numa rede social e assim passaram a chegar novos pedidos.
A produção de kibes, falafel, homus, tabule e outras delícias salgadas e doces do serviço de comida árabe por encomenda é a fonte de renda da família, que ainda sonha em rever os demais familiares, trazendo-os para o Brasil.