é pior do que fake news
Se antes existia um consenso, hoje a verdade é relativizada. Chamamos de "pós-verdade" o fenômeno de crer nas próprias convicções independente do que aconteça ou de fatos objetivos.
O termo surgiu em 1992 e ganhou força em 2016, com base na eleição de Donald Trump e a campanha pelo Brexit, no Reino Unido.
Com uma crise na confiança, a informação rápida em meios sem checagem e a veracidade dos fatos colocada em cheque, a pós-verdade assume o primeiro plano como mecanismo de defesa do indivíduo.
A partir disso, o indivíduo sente sua crença, validação e visão de mundo ameaçadas a partir do confronto com fatos comprovados, dados ou argumentos diferentes dos seus.
Nunca foi fácil para o ser humano se reconhecer e admitir seus erros. No ambiente virtual, ele encontra rapidamente meios de sobrevivência das ideias que lhe convém ou tem apego.
Se tudo é verificável, a mentira fica mais difícil de se manter. Mas é graças à pós-verdade que pequenos mundos paralelos vão sendo criados e fortalecidos; as bolhas virtuais.
Mas elas só funcionam porque possuem investimentos altos em modulação de dados e algoritmos. Sem a internet, haveria uma propagação menor, mais lenta e mais fraca de grupos organizados.
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Medo: o medo de ruptura com a convicção pessoal cultivada diminui ou cessa o contato com o que se opõe à si mesmo, retroalimentando o sistema de crenças inegociáveis
Manipulação: muitas vezes não é preciso montar uma notícia falsa, mas sim apenas adaptar uma notícia à versão que deseja ser contada
Acolhimento: grupos que pensam parecido validam a mesma fabulação dos fatos
Emoção: mesmo que inconsciente, a pós-verdade é validada porque não depende de dados, mas de apelo emocional.
- Luis Mauro Sá Martino, sociólogo
Os mecanismos invisíveis e sofisticados utilizados para filtrar e direcionar dados, notícias e demais meios de sustentação dos fatos tornam o discernimento entre verdade e mentira cada vez mais difícil.
Não importa o que você esteja lendo ou no que acredita, aprenda a exercer o pensamento crítico e questione a si mesmo. Um mundo onde todos os caminhos estão a seu favor ou modulado para te agradar NUNCA SERÁ o mundo real.
Desde os primórdios, a sociedade é movida a seres plurais e a acordos sociais. Só o diálogo e o contato com o que é diferente de você é capaz de fornecer um convívio saudável, justo e diversificado, com respeito mútuo.
Se a internet (e seus algoritmos) trabalham a favor de manter as nossas próprias referências e crenças a nosso alcance, cabe a nós sair do campo da virtualidade para enxergar o que é de carne e osso.