A curiosa história de Cacareco, uma rinoceronte eleita em SP
Não é novidade se deparar com um cenário político nada animador. Nessas horas dá até vontade de eleger nosso próprio cachorro no lugar de um ser humano qualquer. Foi a partir da insatisfação popular que uma rinoceronte foi eleita em São Paulo por meio de voto de protesto. Conheça a história da Cacareco!
E olha, não é por nada, não, mas este belo exemplar de mamífero tem uma biografia e tanto! Foi a primeira da espécie a nascer em terras brasileiras, no dia 14 de fevereiro de 1954. Uma pioneira. Mas este era apenas o primeiro passo desta fêmea de rinoceronte-negro rumo à uma brilhante carreira.
Tudo começou quando o então governador da cidade, Jânio Quadros, instaurou a criação do Zoológico de São Paulo em junho de 1957. Para a ilustríssima ocasião de abertura, em março de 1958, foi emprestada por seis meses a rinoceronte que vivia no zoo do Rio de Janeiro.
A chuva não impediu que a inauguração juntasse 200 pessoas e trânsito na rua. Entre os 482 animais, Cacareco foi a mais visitada. Na ocasião, Jânio soltou a frase ao vento: “com o cartaz que está, Cacareco seria um forte candidato aos Campos Elíseos”. Haveria eleições para governador naquele mesmo ano, mas a previsão dele estava só um pouco equivocada.
A história foi destaque na imprensa. Eis que o jornalista Itaboraí Martins brincou com uma suposta candidatura de Cacareco numa de suas publicações. Foi o suficiente para que o paulistano, infeliz com o baixo nível dos candidatos e com a câmara na época, tomasse partido.
Não demorou para que Cacareco se tornasse aceita e querida pela população. Na época, foi lançado até mesmo um brinquedo chamado Cacareco, em homenagem ao animal. No Carnaval, teve a marchinha “Cacareco é o maior”! ecoando pelas ruas da maior cidade do Brasil.
A campanha estava montada. Quando chegou as eleições para vereador, em 4 de outubro de 1959, ela não apenas ganhou, mas foi líder em número de votos. Apesar dos dados não serem tão exatos, estima-se que 100 mil pessoas tenham depositado seu nome nas urnas.
Naquele período, o voto era em papel e envelope. Dizem que várias gráficas imprimiram o nome do bicho. O resultado não poderia ser outro! Mas, por razões óbvias, os votos foram considerados como nulos.
Segundo uma matéria do Estadão, na maioria das cédulas se lia “Para vereador – Cacareco”. Mas o paulistano também foi criativo ao escrever o voto, usando outras frases como “cansados de teleco-teco, vamos votar em Cacareco”, ou “queremos uma Câmara mais anima… da”.
Em todo caso, Cacareco virou uma paixão dos paulistanos. Quando teve de ser devolvida ao zoológico fluminense, houve um apelo popular grande para que ficasse, com o lançamento da campanha “Cacareco é nosso!”.. A estadia foi estendida por mais três meses, mas dois dias antes da eleição, já havia partido.
E pelo visto ela queria ficar mesmo. Não viveu muito após o retorno ao local de origem. Faleceu precocemente de nefrite aguda, com 8 anos de idade, sendo que a média da espécie é viver até os 45. Seus restos mortais foram exibidos no Museu de Anatomia Veterinária da USP.
A nível de curiosidade…
Quem foi vanguardista mesmo nessa história de eleger animais para cargos públicos foi Jaboatão, em Pernambuco, que quatro anos antes elegeu um bode chamado Cheiroso para vereador. A revista norte americana Time fez uma matéria citando ambos em 1959, o que foi especialmente cômica.
Os gringos gostaram tanto da ideia, que um partido político canadense Rhinoceros Party, envergado nas sátiras, dizia ser o sucessor espiritual deste fenômeno tupiniquim.
Nos anos 1980, o programa de TV Casseta e Planeta, provavelmente inspirado pela Cacareco, lançou para candidatura no Rio de Janeiro o macaco Tião, que recebeu 400 mil votos.
Gostei da matéria
Obrigada por trazer a historia da rinoceronte Cacareco. Eu tinha um rinoceronte de brinquedo chamado Cacareco, mas não sabia que era “ela”. E aí fiquei curiosa, porque puseram um nome masculino, se ela era menina?